sexta-feira, 5 de março de 2010

O menestrel: Ao meu mestre


Quando a vi, ela estava bela, voava toda alegre. Fiquei observando-a e achei graça nessa coisinha pequena e frágil.
Ela já cansadinha pousou em uma pedra empoeirada e daí surgiu minha idéia: capturá-la em minha primeira oportunidade. Me aproximei lentamente, mas quando percebeu-me voou para o outro lado da árvore.
Que temperamental!
Antes que minha segunda tentativa fosse sucedida, ela voou novamente... Pude perceber o risinho irônico que ela lançou-me! Era como se dissesse: Pensou que era fácil né?
Ela não foi para muito longe. Como que para provocar, pousou em uma folha verde e viva. E ficou ali imóvel.
Dissimulei e com os passos lentos e calculados fui andando em sua direção. Se não fosse meu próprio corpo, nem eu teria notado minha presença.
Esse momento exigia cautela. Um movimento mais brusco, colacaria minha úlitma tentativa à falência. Afinal aprendi que borboletas são delicadas e se assustam com qualquer coisinha.
Aproximei minha mão bem devagar: com o dedo indicador e o polegar, prendi seu par de asas!
-- Quieta, borboletinha, quieta!
Ela se debatia, esperniava...
Fixei meus olhos nos dela! Estavam tristes, lacrimejantes e assim ficaram os meus também.
Fiquei ali, hipnotizada!
Que asas lindas, um infinito de cores!
Eu a segurava forte, tinha medo que ela fugisse, fosse embora... Eu não a perderia!
Bom, agora era a hora, mas como?
Ela não mereçia, não havia feito-me mal! Mas dane-se!
Ascendi meu cigarro e soltei a fumaça na direção do seu narizinho pequeno e arrebitado. Tive a impressão de vê-la tossir.
Suas perninhas magrelas começaram a se mover em uma rapidez assustadora e eu a sufocava mais com a fumaça densa.
--Falta pouco, falta pouco!
Ela se aquietou e suas antenas tombaram levemente para o lado. Senti pena! Raiva daquele meu gesto tão nojento.
Um vento gelado soprou: ela abriu os olhos e me olhou com ódio fulminante, injetados de fúria.
Batia suas asas inferiores, batia as pernas, as antenas... Ela lutava pela a vida!
-- Agora chega!
Com a brasa do meu cigarro, desfigurei seu rosto e todo o corpo, apenas não ousei queimas suas asas, que pareçiam um quadro leiloado.
Mas ela não se entregava, permanecia ali desesperada. E minha paciência se esgotando.
Sempre tive a certeza que caçar borboletas era difícil, mas não imaginei que para matá-la valia o mesmo critério.
Fui para a cozinha, abri a torneira e a meti embaixo d'água.
Deitei-a na pia. Ela estava molhada, cansada, agonizando...
Última etapa: Joguei-a dentro de uma redoma de vidro. A deixei no centro da mesa, sentei-me na cadeira e assim permaneçi, mirando meu alvo.
Seu último movimento cessou-se aos 27 minutos exatos.
Pronto, estava feito!
Este era meu triunfo! Finalmente havia entrado para a lista sublime dos 'assassinos de borboletas'.
Mas meu sucesso não deve-se somente ao meu ato, mas também ao meu mestre. Ele me ensinou todas as minunciosas táticas, artimanhas deliberadas e por fim a esplêndida arte de matar uma borboleta!

Obrigado mestre!

Aí está ela, anexada a esta carta como prova de minha gratidão.
Dedico à você minha primeira Butterfly!
Linda, não?

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